quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

Será que estou mesmo a estragar o meu filho?

Adormeceu na minha cama, mais uma vez. Porque eu quis, porque podia tê-lo posto no berço... Mas já passo boa parte do dia atarefada com tudo e mais alguma coisa, ele merece este bocadinho comigo.
Onde ele brinca com o meu fio e puxa-me os cabelos. Onde ele põe a sua mão rechonchuda no meu rosto como se estivesse a gravar cada traço.
Onde ele olha fixamente para os meus olhos enquanto eu lhe balbucio umas músicas... Gosto do Fix You, Coldplay... E ele também parece gostar.
No fundo, é mesmo muito isso:

".... Lights will guide to home
And ignite your bones
AndI will try, to fix you... "

Falam deles dormirem connosco como um bicho de 7 cabeças, que não é saudável para nós e para eles... Ele não dorme a noite toda, adormece comigo, normalmente, e depois o pai o põe no berço... Eventualmente pela manhã, regressa à base, e dorme mais um sono descansado ao pé dos papás.
Eram 05:00 da manhã quando o pai cansado da dança "põe a chucha, perde a chucha, resmunga e voltamos ao início" lhe trouxe para a nossa cama. E ele adormeceu mal deitou-se ali, até à bocado, quando o despertador gritou TRABALHO!
E o olhar para ele com um ar tão calmo e sereno, pergunto-me se de facto isso lhe fará mal. Se estou a criar uma criança insegura. Se estou a por em risco o meu relacionamento, uma vez que, tirando o facto de adormecê-lo, que faço questão que seja ao pé de mim, nós só o levamos para a nossa cama mais para que nós possamos descansar, do que propriamente por ele clamar para lá estar.
Seremos pais preguiçosos? Talvez.
Mas já perdi uma filha. Perdi todas as oportunidades de viver o que estou a viver com o Francisco com ela. Perdi porque me foi tirada, porque partiu sem que eu pudesse fazer nada.
Mas ele não. Ele está comigo e eu posso absorver cada pedacinho do crescimento, das birras, do amor gigante que se multiplica de dia para dia... E também posso pô-lo na minha cama e permitir que ele durma aconchegado ao meu peito, seguro, quentinho... Sabendo que nós, eu e o pai, estamos ali para ele. Sem culpas, só com muito, muito amor.

Amo-te muito Godinho 💙

domingo, 21 de fevereiro de 2016

As crianças morrem...

Eu descobri isso da pior maneira. Vivi na primeira pessoa a morte de uma criança, a morte da minha filha.
Uma mãe, que deve ter tido os seus motivos (ainda que eu não os compreenda, porque nada, nada justifica tirar a vida das próprias filhas), afoga deliberadamente as filhas.
Um casal de milionários chineses deixam a filha de 5 anos sozinha em casa porque vão para o casino... A menina cai, do 21° andar.
E eu me ponho a pensar, porque é inevitável... Eu fiz tudo o que me mandaram durante toda a gravidez... A minha nasceu sem vida. Mas porque, porque estes ditos pais têm a oportunidade de trazerem uma criança viva para casa, e desperdiçam assim, aquilo que de melhor a vida lhes deu?
Hoje foi o funeral da menina mais pequenina... A urna, fazia lembrar a urna da minha Leonor.
Hoje também encontraram o corpo da outra menina, que teria feito ontem 4 anos...
E no meio disso tudo, eu só gostava de ter a minha Leonor comigo. Que me tivesse dado a mesma oportunidade que foi dada a estes pais, trazerem as suas filhas com vida, para casa...

Amo-te tanto Pipocas, tantas saudades...

Beijinho da mãe, daqui até ao céu 🌠

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

Uma carta para a Júlia

Uma carta para a Júlia

Hoje escrevo para ti, Jú. Não faço ideia se já sabes ler, mas suponho que o facto de estares aí em cima te dê privilégios que os outros meninos cá embaixo não tenham. De qualquer das formas, mesmo sem saber ler, sei que escutas com o coração, e, que ninguém nos ouça, é a melhor maneira de ouvir. 
Às vezes teimo em pensar como foram os momentos antes da vossa partida... Se sofreram, é o que mais me assombra, quase todos os dias da minha vida. 
Espero que simplesmente tenham se sentido cansadas e tenham adormecido, porque aquilo que estava a ser pedido de vocês, ou antes, aquilo que não vos estava a  ser dado deve ter feito com que ficassem cansaditas e tenham decido descansar. 
A tua mamã foi a primeira pessoa que persofinicou a perda da Nô. Muito antes de ter coragem de falar com ela, fui imensas vezes ao Facebook e ao blog por diversas razões... Para a ler, para tentar compreender, porque me identificava com cada palavra dita, e, acima de tudo, para ver fotos tuas. És tão linda pequenina ❤
Imagino-te agora parecida com o teu mano, porque uma vez a tua mamã postou uma foto dele recém nascido e eu vos achei tão parecidos... Enfim. Eu ia ver as tuas fotos, pois como sabes, eu não vi a Nô (espero que ela me perdoe por isso)... E as tuas fotos exerciam um fascínio em mim. Estavas a dormir. Eras perfeitas, tinhas uns lábios tão bem desenhados... Não havia dor no teu rosto, somente paz. Em contrapartida, vi nos olhos e nas expressões dos teus papás o mesmo vazio que eu e o pai da Nô tínhamos... Foi nos roubado tudo. Não nos restava esperança,  somente um vazio imenso. 
O tempo tem passado, não sei se aí passa da mesma forma do que cá, mas parece que já passa uma eternidade desde que vocês partiram, e no entanto, só dois anos. 
Todos os dias aprendemos a lidar com a vossa ausência, com a vossa saudade, com a ignorância de certas pessoas, com o pessimismo, com o medo insano de perder os vossos irmãos. Não é fácil viver assim. Não é fácil sentir saudade constante de algo. Não é fácil saber que não temos volta a dar. Não é fácil lutar todos os dias um bocadinho para que vocês não sejam esquecidas e sejam respeitadas como pessoas que são. Somos muito gratas por tudo que vocês nos deram e nos dão. Graças a ti, sei o quanto a tua mãe é melhor mãe para o Alex, tal como eu sou para o Kiko... Vocês nos ensinaram a aproveitar o momento, a sermos gratas por aquilo que temos, a não perder tanto tempo com coisas sem importância, acima de tudo, vocês nos ensinaram a amar. Amar sem ver. Amar sem tocar. Amar sem cheirar. Ensinaram-nos a amarmos os vossos irmãos, a absorver cada bocadinho deles, porque um dia vão ser demasiado crescidos para os nossos colos. 
Sei que tens orgulho na tua mãe por tudo aquilo que ela tem feito, pelo sonho que realizou ao entrar para a Cruz Vermelha, pelo apoio que ela dá à mulheres como eu, e isso tudo, ela (e eu) só tem a agradecer a ti. 
Pequenina, a tua vida na Terra foi curta, mas o teu legado vai durar para sempre... Porque eu tenho a certeza que no dia em que a tua mãe estiver finalmente pronta para estar contigo, o Alex jamais vai esquecer a irmã especial que tem... E o teu nome, a tua vida, vai perdurar para sempre. 
Gosto muito de ti Jú, espero que tu e a Nô sejam boas amigas. 
Não fiquem tristes connosco quando choramos e nos apetece ir ter convosco... Nem sempre é fácil. Aliás, na maior parte do tempo é muito difícil, cansa durante muitos dias vestir uma capa de alegria, só para não "perturbar" ninguém com a nossa dor. 
Espero que tenhas um dia "fabulástico" pequena Princesa <3 
Sê muito feliz, pois só conheceste o amor, nada de mal te tocou...

Beijinho, 
Tia Tainá.

PS: Cristina, minha amiga... Não escrevo para ti porque sei o que é o dia de hoje e o quanto dói o teu coração, o teu corpo, a tua alma... Não escrevo para ti porque hoje o que gostava mesmo era dar-te um abraço e chorar contigo, porque às vezes é o que nós precisamos. 
Gosto tanto de ti... <3

Beijinho, e muita força para hoje....

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

Perder um filho...

Apesar de existirem dores imensas no mundo, e quando eu digo imensas, é porque são mesmo imensas, acho que nenhuma, mas nenhuma compara-se a dor de perder um filho.
Quando um filho se vai antes de nós, perdemos o nosso futuro. Perdemos parte da nossa história. Perdemos a nossa continuidade. Perdemos um pedaço de nós, perdemos esperança. E ganhámos um medo insano do que nos espera sem eles.
Quando perdi a Leonor, pensei nunca mais levantar-me da cama. A minha vida havia acabado ali, naquela marquesa, quando disseram que não tinham boas notícias para mim, que o coração da minha filha não batia mais...
Tantas questões me surgiram... Porque a mim? Ela estava bem, ainda há umas horas a sentia mexer, como assim morreu? Como não me avisaram que um bebé morre dentro da barriga da mãe?
Depois, apatia. Não conseguia chorar. Chorei ao pé do pai da minha filha. Chorei quando chegou a minha mãe. Chorei quando chegou a minha sogra.
Odiava os olhares de pena que os enfermeiros, médicos e auxiliares me lançavam. Comecei a pensar em questões práticas... O que fazer com o corpo. Como contar para as pessoas. Tirar o berço dela do meu quarto. Dar de comer aos meus gatos, tinham ficado presos naquela noite em que nós pensamos que não passava tudo de um susto.
O dia se desenrolou, ela nasceu. Não a vi. Senti por breves instantes a pele dela na minha, quente e macia. É o que guardo fisicamente da minha filha. Isso e umas radiografias "simpaticamente cedidas" pelo hospital onde ela nasceu, onde pude ter alguma ideia de como era a minha filha, pelo menos os contornos do corpinho dela.
Depois, engravidei novamente e graças à Deus tenho o meu menino vivo nos braços.
Mas existem mães... Existem mães que sofrem mais do que um golpe. Existem mães a quem os filhos lhes são tirados mais do que uma vez.
Conheci uma pessoa que havia passado pelo mesmo que eu... A nossa dor nos "uniu", pois eu e ela havíamos perdido os nossos filhos da mesma maneira.
Tal como eu, ela também tinha o seu colo vazio e queria desesperadamente preencher um bocado do imenso buraco negro que surge quando os nossos filhos partem.
Ela conseguiu. Estava a ser medicada. Tudo ia correr bem, só podia correr, não era? Já basta uma vez... Infelizmente, não bastou. A pequenina tinha um dói dói grande, e os pais precisaram deixá-la partir.
Quando soube da notícia... Confesso, fiquei sem chão. Chorei. Disse uma ou duas asneiras.
Porra, já não era o suficiente? Ela teria que, pela segunda vez, por um filho sem vida no mundo? Mas porque? Ninguém deveria passar por tal dor, é demasiado cruel... Muito menos duas vezes seguidas e com tão pouco espaço de tempo.
As pessoas desvalorizam, porque os nossos filhos não tiveram um dia de vida cá fora. Porque nunca tivemos oportunidade de os pegar, com vida, nos nossos braços. Porque, segundo dizem, foi melhor assim, imagina se morresse mais tarde?!
Eu continuo a achar cruel. Eu continuo a achar desumano. Eu continuo a achar que é uma dor que ninguém deveria passar, nenhuma vez, quanto mais duas.
Às vezes tenho saudades de quando tudo era mais fácil. De quando eu acreditava que tudo dava mais certo do que errado. De quando eu não sabia da infinidade de coisas que poderiam levar os meus filhos de mim desde o momento da concepção, até quando chegassem à vida adulta.
Tenho saudades da minha inocência perdida...
Acima de tudo, tenho saudades de ti, Leonor. Ensinaste-me tanto, me deste tanto, mas a falta que me fazes, as saudades que me consomem... Meu Deus! Quem me dera poder voltar atrás. Quem me dera que me fosse dada mais uma chance, contigo.

Amo-te Princesa...

Beijinho da mãe Pipocas, daqui até ao céu! 🌠