terça-feira, 23 de setembro de 2014

Porque às vezes sou uma muralha...

Às vezes sou uma muralha, e encaro tudo de frente. É preciso ser feito, mesmo que doa, fazemos. No dia em que nasceste, tive um pequeno descontrolo, de repente, depois de muita paciência por parte das enfermeiras, cheguei a conclusão de que tinha que ser feito. E tinha que ser feito por mim, por mais ninguém. Então concentrei-me, e fiz. Fiz o que me disseram e trouxe-te ao mundo. Não da maneira que eu queria, mas trouxe.
Mas às vezes... Às vezes só me apetece fazer como quando era mais nova, meter-me na cama da avó, e no dia a seguir tudo estava bem.
Tenho fotos tuas por toda a casa... Na sala, no escritório, na cozinha, no quarto... Mas no meu telemóvel ou no Ipod, não consigo.
Já tentei, mas dá-me um desespero tão grande, e não consigo.
A parte estúpida da coisa, é justamente o facto da mãe ter fotos tuas por todo o lado... Mas ali, naquelas duas traquitanas, não consigo.
Por isso bebé, às vezes a mãe é forte feito uma muralha, mas às vezes... Às vezes tenho 8 anos outra vez, e só me apetece a cama da minha mãe, onde tudo passa, onde nada me atinge.

2 comentários:

  1. A tua Nô está no teu coração, é lá que ela mora. Se não consegues ter nos gadgets por alguma razão será que sei logo logo irás perceber... A minha Júlia, a urna da minha Júlia está está numa gaveta do meu armário. Tive que a colocar lá... acordar de manhã e ver a urnazinha dela prendia-me demasiado ao episódio da morte e pouco à vida que ela teve e à felicidade e amor que nos ofereceu de presente com a sua curta vida.Quando decidi colocá-la lá doeu-me horrores sentia por dentro que a renegava mas não... o que eu fiz ao colocar lá foi dar mais importância à vida que ela teve, foi perceber que o amor não tem espaço, não tem foto, não tem lugar. Está em todo o lado mas principalmente está no nosso coração.
    A tu Nô mora no teu coração e tu és uma muralha sempre, mesmo quando tens 8 anos e te apetece a cama da tua mãe. Tu és forte! e eu tenho a certeza absoluta que a Nô tem um grande orgulho da mãe que tem :)
    Abraço bem apertadinho

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    1. Eu no fundo sei... São as duas coisas que mais mexo ao longo do dia, e ter a foto dela ali, apenas da ecografia, faz-me lembrar constantemente a "não existência" dela.
      Ao passo que espalhadas pela casa, a casa também é dela, ainda que não esteja cá... Por tanto, quem lá chegar tem que se habituar a presença da minha filha, que esteve tão pouco tempo entre nós, mas é também parte desta família.
      Por tanto, as fotos na casa, são um "tributo, as fotos nos gadgets, é um abrir a ferida vezes sem conta..
      Se tivesse ficado com a urna da Nô, acho que teria querido também guardá-la... Porque aquilo, lá está, me ia lembrar constantemente a não existência física dela. E prefiro, sem sombra de dúvidas, lembrar dela viva, quando estava bem <3
      Não me sinto forte... Me sinto como tu descreveste há pouco tempo, uma fénix. Que entra em combustão, e voltar a renascer... Vezes e vezes sem conta.
      Obrigada pelas palavras <3

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