quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

Perder um filho...

Apesar de existirem dores imensas no mundo, e quando eu digo imensas, é porque são mesmo imensas, acho que nenhuma, mas nenhuma compara-se a dor de perder um filho.
Quando um filho se vai antes de nós, perdemos o nosso futuro. Perdemos parte da nossa história. Perdemos a nossa continuidade. Perdemos um pedaço de nós, perdemos esperança. E ganhámos um medo insano do que nos espera sem eles.
Quando perdi a Leonor, pensei nunca mais levantar-me da cama. A minha vida havia acabado ali, naquela marquesa, quando disseram que não tinham boas notícias para mim, que o coração da minha filha não batia mais...
Tantas questões me surgiram... Porque a mim? Ela estava bem, ainda há umas horas a sentia mexer, como assim morreu? Como não me avisaram que um bebé morre dentro da barriga da mãe?
Depois, apatia. Não conseguia chorar. Chorei ao pé do pai da minha filha. Chorei quando chegou a minha mãe. Chorei quando chegou a minha sogra.
Odiava os olhares de pena que os enfermeiros, médicos e auxiliares me lançavam. Comecei a pensar em questões práticas... O que fazer com o corpo. Como contar para as pessoas. Tirar o berço dela do meu quarto. Dar de comer aos meus gatos, tinham ficado presos naquela noite em que nós pensamos que não passava tudo de um susto.
O dia se desenrolou, ela nasceu. Não a vi. Senti por breves instantes a pele dela na minha, quente e macia. É o que guardo fisicamente da minha filha. Isso e umas radiografias "simpaticamente cedidas" pelo hospital onde ela nasceu, onde pude ter alguma ideia de como era a minha filha, pelo menos os contornos do corpinho dela.
Depois, engravidei novamente e graças à Deus tenho o meu menino vivo nos braços.
Mas existem mães... Existem mães que sofrem mais do que um golpe. Existem mães a quem os filhos lhes são tirados mais do que uma vez.
Conheci uma pessoa que havia passado pelo mesmo que eu... A nossa dor nos "uniu", pois eu e ela havíamos perdido os nossos filhos da mesma maneira.
Tal como eu, ela também tinha o seu colo vazio e queria desesperadamente preencher um bocado do imenso buraco negro que surge quando os nossos filhos partem.
Ela conseguiu. Estava a ser medicada. Tudo ia correr bem, só podia correr, não era? Já basta uma vez... Infelizmente, não bastou. A pequenina tinha um dói dói grande, e os pais precisaram deixá-la partir.
Quando soube da notícia... Confesso, fiquei sem chão. Chorei. Disse uma ou duas asneiras.
Porra, já não era o suficiente? Ela teria que, pela segunda vez, por um filho sem vida no mundo? Mas porque? Ninguém deveria passar por tal dor, é demasiado cruel... Muito menos duas vezes seguidas e com tão pouco espaço de tempo.
As pessoas desvalorizam, porque os nossos filhos não tiveram um dia de vida cá fora. Porque nunca tivemos oportunidade de os pegar, com vida, nos nossos braços. Porque, segundo dizem, foi melhor assim, imagina se morresse mais tarde?!
Eu continuo a achar cruel. Eu continuo a achar desumano. Eu continuo a achar que é uma dor que ninguém deveria passar, nenhuma vez, quanto mais duas.
Às vezes tenho saudades de quando tudo era mais fácil. De quando eu acreditava que tudo dava mais certo do que errado. De quando eu não sabia da infinidade de coisas que poderiam levar os meus filhos de mim desde o momento da concepção, até quando chegassem à vida adulta.
Tenho saudades da minha inocência perdida...
Acima de tudo, tenho saudades de ti, Leonor. Ensinaste-me tanto, me deste tanto, mas a falta que me fazes, as saudades que me consomem... Meu Deus! Quem me dera poder voltar atrás. Quem me dera que me fosse dada mais uma chance, contigo.

Amo-te Princesa...

Beijinho da mãe Pipocas, daqui até ao céu! 🌠

2 comentários:

  1. Vejo as fotos da minha primeira gravidez e penso no quanto eu era ingênua, inocente...pensava que bebes eram eternos...Foi um choque!!! Da segunda eu já estava mais fria, menos sonhadora, consciente do que podia acontecer...Aconteceu!!! Duas filhas, 33s e 32s. Perfeitinhas, formadinhas, anjos!

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