terça-feira, 2 de agosto de 2016

As Mães do IPO

O título é copiado, faltou imaginação para criar algo, uma vez que vou escrever sobre elas.
Já estive duas vezes na minha vida para fazer voluntariado no IPO... 
Eu adoro crianças, sentia, e ainda sinto, que tenho muito para lhes dar. 
Na primeira oportunidade, os horários que eram precisos eram incompatíveis com os meus horários académicos.
Na segunda oportunidade, tinha perdido a Leonor há dois meses. Tinha amor à transbordar pelos poros, mas ninguém para o receber. Eu sei que vocês, pais e mães, quando são confrontados com esta maldita doença passam a viver em função dos vossos pequenos, muitas vezes sem tempo para irem comer, tomar banho ou dar atenção aos outros filhos que possam existir.O cancro é um bicho filho da mãe, que não satisfeito em atacar uma criança ou adulto, ataca também aos que estão a volta da pessoa enferma.
A minha ideia em ajudar era essa, tornar-me uma pessoa de confiança junto desses pais, para que eles pudessem fazer coisas corriqueiras, e estarem descansados, sabendo que havia alguém de confiança a olhar pelos seus pequeninos caso precisassem  estar ausentes.
Uma das minhas melhores amigas tem o pai com cancro. Já perdeu o avô para a mesma doença. Não é, de todo, mais fácil encarar o cancro numa pessoa adulta... Eu vi e vejo o que a minha amiga sofre.
Mas numa criança... Temos sempre a ideia deles gordinhos e saudáveis, a fazerem asneiras e a caírem, pois são crianças, e é assim que tenha ser.
Infelizmente, a realidade não é sempre essa. As crianças também ficam doentes, com doenças graves, como os adultos e às vezes... Às vezes o corpinho delas precisam descansar, porque já é demasiado sofrimento para suportar.
Após a partida dos seus filhos, quem fica? As mães (e os pais) do IPO. Que deixaram a vida tal como ela era para estarem o máximo possível presentes para os seus filhos, e de repente, eles partem... E o que nós fazemos? Por onde começamos? Lembramos da vida como ela era antes dos nossos filhos terem partido?
Eu sou uma mãe vítima da trombofilia, perdi a minha Leonor para uma doença silenciosa... E por vezes, faço a mim própria as questões que fiz acima, porquê às vezes sinto-me perdida e sem rumo.
Graças à Deus tenho agora uma "bússola" de 13 meses que dá sentido à minha vida e me faz continuar.
Voltando ao início, fiz uma pequena visita ao IPO... E, acreditem ou não, não tive pena daquelas crianças... Mas dor... Doía como se fossem meus. Doía-me ver aqueles pais com o olhar cheio de esperança e com um sorriso nos lábios, quando por dentro estavam desfeitos, mas acima de tudo, não queriam decepcionar os seus guerreiros, tudo para lhes conseguir dar toda força, carinho e amor possíveis.
Depois de perder a Leonor, como disse, pensei em voltar a tentar o voluntariado.... Mas senti-me fraca. Tive medo de atormentar mais ainda aquelas mães e as suas crianças. A minha dor é enorme, mas a dor deles... Não depende ti. Não podes simplesmente cura-los com um Ben-u-Ron, tens que aguardar... Exames, resultados, tratamentos a seguir, efeitos secundários  devido a medicação... Não suporto ver o meu filho com uma crise de dentes, se um dia fosse confrontada com uma realidade semelhante, não sei, mas acho que a minha sanidade mental estaria em jogo. Não concebo a ideia de perder outro filho, seja da maneira que for.
Somos todas mães guerreiras. Todas nós sobrevivemos ao avesso da  vida. Todas nós continuamos com as nossas vidas, até porque esta foi a única saída que os nossos filhos nos deixaram.
Eles só têm o que nós lhe damos, e eu quero, muito, que a minha Leonor seja muito feliz no sítio como anjos como ela vivem.
Mães do IPO, se eu acho que a minha dor é gigantesca, não imagino o que é receber a notícia de que mais nada há para fazer... Como deixamos morrer um filho, sem antes lutarmos? A palavra desistir não está no vocabulário das mães do IPO, aliás, não está no vocabulário de qualquer mãe.
Fazemos mais do que aquilo que alguma vez sonhamos fazer pelos nossos filhos. 
Somos movidas a amor. É aí que vamos buscar as nossas forças... É também por amor que deixamos partir a nossa obra mais perfeita, quando a dor já é demasiada... 
Que sofra eu, com a saudade, com a ausência, com a tristeza, com os dias de bipolaridades... Mas que a minha Leonor seja feliz, onde quer que ela esteja. 
Para vós, mães do IPO, o maior abraço apertado do mundo... São uma guerreiras. Somos umas guerreiras.

Beijinho da mãe, Pipocas...
Daqui até ao céu!... 🌠


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