segunda-feira, 14 de maio de 2018

Quando foi que eu me perdi?

Suponho que tenha perdido o pouco de orientação que me restava quando a Leonor morreu, mas a verdade, é que já há imensos anos que me sinto aqui a planar, como se não pertencesse a este mundo. 
As horas passam. Os dias sucedem-se. Os meses. Os anos. E eu não encontro um caminho para seguir. 

Sempre achei que ser mãe seria o clímax da minha vida, mas a verdade é que a maternidade, desde muito cedo, só me tem trazido mais dores... Talvez por não ser a altura de tudo acontecer, mas suponho que mais da metade da população não faça a sua vida milimetricamente pensada, e as coisas até correm bem.

Eu só queria normalidade na minha vida. Gostava de poder ser mãe a tempo inteiro, ter mais que um filho, três, porque não? Era trabalhoso, mas de certeza que seria recompensador.

Mas não. Perdi três filhos. Na verdade sou mãe de quatro, e só tenho um comigo. 
E ele é a bússola que me diz onde é o Norte tantas e tantas vezes... 

Mas até ele não é um trabalho fácil. Talvez por culpa minha e do pai, da genética, sei lá, do raio que os parta. 
Ele vai precisar de mais apoio que a maioria das crianças. Tenho um longo caminho a percorrer com ele e sinceramente, não me apetece. Tenho vontade de pegar nele e ir para um sítio onde não o estejam constantemente a comparar com outras crianças. Um sítio onde eu visse que ele era feliz, e não obrigado a entrar num modelo de uma criança normal... Mas afinal, que merda é essa de ser normal?!
Dói-me nunca lhe ter ouvido me chamar de mamã... Ele sabe que eu sou a mamã, ele sabe que é o centro do meu mundo, eu sei que sou o centro do mundo dele, quando estamos só nós, é tudo tão perfeito... Mas não temos um mundo só nosso. Temos que viver com os outros, e isso me tem custado, porque as pessoas não sabem o quão cruéis podem ser, mesmo que "só queiram ajudar". 

Eu queria uma vida normal. Um casamento, filhos, um cão e gatos. Ia ter problemas, eu sei que sim, mas queria uma vida normal...

Tenho um lado obscuro em mim. Está subjugado, pela criação que tive, pela educação religiosa que tive, mas o tenho visto com frequência. 
Ele mostra a outra vida que eu poderia ter, caso não tivesse feito as opções que fiz.

De tudo, e apesar de não ter os quatro comigo, só não me arrependo dos meus filhos. 

Não consigo condenar quem por vezes pega numa mochila e desaparece. 
Se eu pudesse, era o que eu faria. Eu, meu filho e o meu gato. 
Não queria ser preocupação para ninguém. 
Não queria preocupar-me com ninguém, só queria fazer o Francisco feliz, da melhor maneira que eu soubesse e pudesse... 

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