sexta-feira, 16 de outubro de 2015

Por vezes, a revolta teima em voltar...

Hoje não escrevo para ti filha, hoje escrevo porque preciso desabafar... Porque talvez, talvez se conseguir escrever alguma coisa do que sinto, talvez acabe por compreender o que se passa comigo.
Eu perdi a minha Leonor há 18 meses. 
Há 18 meses que eu não o que é não ter momentos de tristeza durante o dia. 
Há 18 meses que eu não sei o que é ir dormir a noite, desejando acordar amanhã sem o pesadelo da minha vida sem ela.
Há 18 meses que não consigo deixar de imaginar o que seria se ela estivesse cá... A minha psicóloga diz que este tipo de pensamento não é saudável, que não estou a deixá-la partir... Mas a questão... Eu no dia 02/04/2014 saí daquele hospital de braços vazios, feita em cacos. A minha filha ficou lá. No dia 03/04/2014, ela foi autopsiada e no dia 05/04/2014, o sofrimento do corpinho físico dela acabou para sempre, porque foi cremada.
A minha filha partiu e eu lido com isso. Todos os dias. Praticamente em todos os momentos. Eu percebo o que a minha psicóloga quer dizer com o "deixá-la partir"... Mas neste momento, não sei se me encontro preparada para o fazer. É tudo o que eu tenho dela. Essa dor que me consome. Esse ódio que me invade, essa revolta que me despedaça. Essa saudade que dói tanto. Essa tristeza de não poder ter uma segunda oportunidade com ela. 

Essa é a parte má que ainda me liga a ela... Mas existe a parte boa. Aliás, existem mais partes boas do que más, e ainda bem que assim é... A minha filha fez de mim quem eu sou hoje, para o bem e para o mal. Aprendi (e continuo a aprender) muito, cresci muito, perdi a paciência para coisas banais... Mas também ganhei "maus" hábitos. A vida perdeu parte da sua cor. Uma viagem, uma saída, um jantar, já não têm o mesmo sabor. As noites são horríveis, porque quase consigo tocá-la, mas depois ela volta a desaparecer... E fico eu, eu, a minha dor, a minha saudade...
São 01:00 hs da manhã. Precisei de medicamentos para a depressão e para dormir... No entanto, as noites continuam iguais. Levam tempo a passar... E me fazem pensar naquela madrugada de 01/04/2014...
Já tive tempo mais do que o suficiente para encaixar na cabeça que nada do que eu pudesse fazer poderia ter salvado a minha Leonor... Mas continuo a achar que falhei. Eu devia proteger-la. Não dizem que é dentro de nós que vocês estão seguros? O meu corpo traiu a minha filha... Sei que racionalmente falando não é assim, mas em dias como hoje... É só o que eu sinto.
Talvez sejam as festas de família que me ponham neste estado... O meu sogro faz anos no próximo domingo,, vão estar todos contentes, ainda por cima, este ano temos o pequenino que é a "continuação da espécie", mas... Onde fica a minha Leonor nisso tudo? Ninguém lembra... As pessoas não falam dela para não me magoar... Quando é tão ao contrário!

Oh filha, mas que porra de dias! Que saudade que me consome a alma! Que revolta por não poder ter outra oportunidade contigo... Tenho tantas saudades tuas meu amor, tantas...


Amo-te muito Pipocas...
Um beijinho da mãe... Daqui até ao céu! <3

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